História

A cidade de Conselheiro Lafaiete está situada na região centro-leste de Minas Gerais, no vale do Rio Paraopeba. Era conhecida na era colonial como arraial dos Carijós. O povoado foi elevado à condição de freguesia e Paróquia sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição, aos esforços de alguns aventureiros que, no princípio do século XVIII, minerando a Serra do Ouro Branco, mancomunaram-se com os índios da tribo dos Carijós, então em aldeamento naquelas paragens e deram ao arraial o nome de “Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós”. Daí a fundação de sua Igreja Matriz, tão sólida e estrategicamente construída.

Sob a invocação da padroeira Nossa Senhora da Conceição, a Paróquia foi instituída em 1709, pelo bispo do Rio de Janeiro, Dom Francisco de São Jerônimo e foi a 13ª de Minas, em ordem cronológica.

Nos primeiros anos do século XVIII, já existia o arraial, onde foi erigida a capela de Nossa Senhora da Conceição, subordinada à Matriz de Furquim. Mais três capelas foram erigidas em fases posteriores àquela primitiva Igreja: a de Santo Antônio no ponto mais alto da cidade – morro/colina de Santo Antônio, a capela dedicada a Nossa Senhora do Carmo, no centro da cidade alta e a capela de São Sebastião na parte baixa da cidade, denominada pelo nome daquele bairro de Lafaiete, próximo à estação ferroviária, que recebeu esse nome ao ser inaugurada em 15 de dezembro de 1883, homenagem ao ilustre estadista Lafayette Rodrigues Pereira.

Segundo o historiador Waldemar de Almeida Barbosa, nos primórdios do lugar, mineiros que lavraram na serra de Ouro Branco uniram-se aos carijós, constituindo o arraial. Seus aldeamentos localizavam-se na parte alta da cidade, no local onde se ergue hoje a Igreja Matriz. Os índios, embora tivessem sido perseguidos pelo branco na baixada do Rio de Janeiro de onde vieram, não se mostraram hostis ao colonizador e desbravador da região.

Nelson de Sena, em sua “Toponímia Geográfica”, difundiu a idéia de que carijó era o mesmo que caboclo, isto é, mestiço de sangue indígena e branco. Mas, a verdade, como frisa o mesmo autor, carijós era o nome empregado genericamente pelos colonos portugueses dos primeiros tempos, para designar índios em geral. Como o termo Carijós foi empregado para designar os índios resultantes do cruzamento de índios goiases e caribas, do extremo norte do Brasil, de onde emigraram para o Sul e chegaram a ocupar vastíssima extensão, e como o cruzamento entre brancos e índios deve ter sido extensíssimo, tanto no arraial dos Carijós, como em outras plagas, com o correr dos tempos, provavelmente veio o vocábulo a ser empregado no sentido que alguns pretendem, isto é, o de mamelucos.

Indubitavelmente, a região dos Carijós foi das primeiras de Minas a ser devassada pelas bandeiras, que se enfurnaram pelo sertão, à cata de ouro, antes mesmo do descobrimento na vale do Tripuí. Segundo Basílio de Magalhães, por aí esteve, em 1691, José Gomes de Oliveira, que foi encontrar ouro em Itaverava.

De acordo com as informações de Bento Fernandes Furtado de Mendonça, transcritas por grande número de historiadores, Antônio Rodrigues Arzão percorreu aquele sertão e teria descoberto o primeiro ouro. Em seguida, Bartolomeu Bueno de Siqueira, em 1694, percorreu os mesmos sertões, também atingindo Itaverava. Uma informação mais segura nos dá conta de que certo Duarte Nunes, que outro não seria senão o mulato referido por Antonil, foi o primeiro a percorrer aquele sertão, descobrindo o primeiro ouro. E, regressando a São Paulo, com notícias alvissareiras, logo se formou grande bandeira, que devassou o sertão, em busca de ouro. Manoel de Camargo, seu cunhado Bartolomeu Bueno de Siqueira, seu genro Miguel Garcia de Almeida e Cunha, seu sobrinho João Lopes de Camargo, constituíram a grande bandeira que, em 1694 esteve na região dos Carijós e chegou a Itaverava, onde descobriu ouro. Estes foram, pois, os descobridores de ouro; é esta a versão de José Rebelo Perdigão, em prática dirigida ao Padre Diogo Soares, aceita por Francisco de Assis Carvalho Franco e por Augusto de Lima Júnior.

Logo que a corrida ao ouro se intensificou para as Minas Gerais, houve o aparecimento dos Arraiais de Ouro Branco. Catas Altas, Guarapiranga, surgindo também o arraial dos Carijós. Ali se achava a passagem obrigatória para o antigo Guarapiranga, para Mariana, para Itaverava, para Catas Altas, isto é, era um pouso obrigatório, que permaneceu por muitos anos, inclusive após a construção do Caminho Novo para Minas Gerais, vindo do Rio de Janeiro.

Em sesmaria, o território pertenceu a Jerônimo Pimentel Salgado, que o deu em patrimônio da Matriz. Sua sesmaria concedida em 1711, quando o arraial já estava constituído, principiava no “ribeiro da Casa Branca, pelo caminho do povoado, até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição”. Ao ser concedida a sesmaria, em 1711, o “caminho do povoado” era sinal de referência.

Outra circunstância para a qual convém chamar a atenção é a de mencionar “Igreja” e não capela, corroborando a informação do Cônego Trindade, de que era freguesia desde 1709. Foram os seguintes, seus primeiros vigários colados: Padres Simão Caetano de Moraes Barreto, Antônio José de Abreu Fortunato Gomes Carneiro, Cândido Tadeu Pereira Brandão. Domiciano Teixeira Campos e José Vieira de Souza Barros. Num relatório datado de 1849, assinado pelo vigário Pe. Eteneto Antônio Machado, lê-se: “Esta Igreja não só é uma das mais antigas, como muito bem construída, toda de pedra e cal; e toda ela está, não só por dentro, como por fora, muito decente” (Igrejas de Minas, Relatórios dos Vigários, 1849, A. P. M.).

Ao governador da Capitania, Visconde de Barbacena, representaram os moradores do Campo Alegre dos Carijós, alegando a considerável distância em que se achavam das vilas de S. João, S. José, Vila Rica e Mariana a cujas justiças eram sujeitos, com grandes prejuízos e incômodos; alegaram ainda ser o Campo Alegre dos Carijós, o ponto mais central entre as freguesias de Nossa Senhora da Conceição, Congonhas do Campo e Itaverava, e ainda o fato de estar o povoado situado na Estrada Real que vinha do Rio de Janeiro. Suplicavam fosse o arraial elevado à categoria de vila, “com corpo de Câmara e justiças competentes”. E o Sr. Visconde, a 19 de setembro de 1790, no próprio arraial, onde se achava, acompanhado de luzida comitiva, assinou o auto da criação da vila, no arraial dos Carijós, “o qual de hoje em diante se denominará Real Vila de Queluz”.

Tal denominação se deveu a uma homenagem ao ” Palácio Real de Queluz” que pertenceu a D. Christovam de Moura e sucessivamente a D. Pedro II e D. Maria I, reis de Portugal, que então reinavam.

A Real Vila de Queluz foi a décima vila a ser criada na Capitania de Minas Gerais. Queluz foi teatro da mais notável vitória obtida pelas forças liberais de 1842. Estava Queluz em poder das forças legalistas, sob o comando do brigadeiro Manoel Alves de Toledo Ribas; eram 4 batalhões, vários contingentes de outros corpos, além de cavalaria e artilharia, num total de l .300 homens.

Os rebeldes, depois de longas discussões, deliberaram tomar a vila. O comandante Galvão tomou posição no Lava-Pés; outra coluna, sob o comando de Alvarenga, postou-se na saída para Barbacena; noutra saída ficou a coluna do capitão Marciano, restando desguarnecida, por falta de gente, uma outra saída. Ao amanhecer do dia 26, carregaram os rebeldes de Galvão sobre os legalistas, que foram recuando até a Matriz. Entrou em cena, então, a coluna de Alvarenga, enquanto o capitão Marciano os atacou pela retaguarda. Os oficiais legalistas mais graduados conseguiram fugir durante a noite: e, ao amanhecer do dia seguinte, a tropa legalista, com lenços brancos nas pontas das baionetas, entregou-se com forte material de guerra Segundo o pesquisador Roberto Capri, em sua obra “Minas Gerais”, naquela Igreja Matriz estiveram reunidas as forças legalistas da Revolução de 1842 e até então, naquela época do lançamento da citada obra – 1916 – ainda havia marcas nas paredes externas do templo que foram produzidas pelas balas inimigas, sendo que dali partiu uma bala certeira em direção a um sobrado fronteiro à Igreja, atingindo mortalmente o alferes Fortunato Nunes Galvão que caiu aos pés de seu pai, o valoroso General Galvão, a quem o jovem servia e então por suas ordens, descarregava cerrado tiroteio sobre o improvisado forte – a Igreja Matriz.

Passados vinte e quatro anos daquela revolução de 1842, a antiga vila foi elevada à categoria de cidade pela Lei Nº l .276, de 2 de janeiro de 1866, que determinava em seu artigo primeiro: “Fica elevada à categoria de cidade a Vila de Queluz, conservando o mesmo nome”. Em 1872, foi considerada sede do Município e Comarca.

A cidade teve participação ativa também na campanha contra Lopes e na campanha cívica de Rui Barbosa como candidato à Presidência da República. Nesta, Queluz brilhou mais uma vez. O grande brasileiro sentiu-se emocionado com a recepção carinhosa que lhe tributou o povo daquela cidade. Em homenagem ao notável estadista e jurisconsulto pátrio, o conselheiro Dr. Lafayette Rodrigues Pereira, natural do município de Queluz, a denominação de Conselheiro Lafaiete foi dada à cidade, ao município e a comarca, pela lei N° 11.274, de 27 de março de 1934.

O município de Conselheiro Lafaiete é rico em minérios e, especialmente, de grandes jazidas de manganês, exploradas por várias companhias ao longo da sua história.

Em 1916, a economia do município era também baseada no comércio de lenha, leite, cereais, aves e todos os produtos da pequena lavoura. A indústria pastoril, o fornecimento de madeira para a construção civil, a criação e engorda de gado e porcos, a produção de açúcar, rapadura, aguardente, algodão e marmelos, além da exportação de gado eram atividades que constituíam então a abastança dos fazendeiros do município. Dentre as indústrias que se destacavam estava a de produção de violas, violões e bandolins que foi premiada com a medalha de ouro na Exposição Nacional de 1908.

Reduto de civismo, centro de cultura e de trabalho, Conselheiro Lafaiete é bem um exemplar de uma comuna em que se cristalizaram as virtudes tipicamente mineiras. A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Queluz, a 14 léguas de Mariana e 68 da Corte do Rio de Janeiro. Com 6.190 almas e 614 fogos, e de rendimento cobrável com a Côngrua de 800$000.